quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Ser Orgânico


Os orgânicos rejeitam os aditivos químicos, são tratados com ervas medicinais e buscam o equilíbrio com a natureza

Enquanto uma parte dos agricultores luta pelos avanços da biotecnologia, um grupo menos numeroso defende a volta de técnicas praticadas por seus antepassados. No lugar de agrotóxicos para matar certas pragas, eles soltam joaninhas e outros insetos. Em vez dos fertilizantes, usam esterco ou preparados à base de ervas medicinais. Nada de antibiótico ou hormônio aos animais. Só homeopatia, acupuntura e jamais o confinamento. A filosofia da agropecuária orgânica busca a harmonia, o que se traduz na mínima interferência no meio ambiente. Na receita, claro, estão a preservação da fauna, da flora, o cuidado com os rios e o ar. Some-se a isso o veto ao trabalho infantil e a absorção de parte da mão-de-obra da redondeza.

Embora represente uma nesga de 1% a 3% do mercado total de alimentos, a agricultura orgânica cresce ano a ano. Em 1997, estima-se que verduras, frutas, legumes, açúcar, mel, café, carne ou vinho sem aditivos químicos renderam cerca de US$ 11 bilhões no mundo. Em 2001, as vendas saltaram 127%, indo para US$ 25 bilhões. No Brasil, o faturamento foi de US$ 260 milhões. O Japão, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e em particular a Alemanha, a Itália, a França e a Suíça são os maiores consumidores.

A doença da vaca louca e a febre aftosa foram bons motivos para os orgânicos conquistarem adeptos no Exterior, muitos dispostos a pagar entre um terço e 50% mais caro para ficar livre de ameaças. No Brasil, o disparate de preços chega ao absurdo. Um quilo de tomate com agrotóxicos custa R$ 2, quase três vezes mais barato do que o orgânico, vendido a R$ 5,25. “A qualidade, o sabor e os nutrientes são mais abundantes nos orgânicos”, puxa sua sardinha o descendente de alemães Alexandre Harkaly, vice-presidente do Instituto Biodinâmico (IBD), empresa sediada em Botucatu, no interior paulista, que fiscaliza as práticas rurais e distribui selos de qualidade.

Antroposofia – Quem acha radical o cultivo orgânico prepare-se. Desenvolvida desde 1924, a agricultura biodinâmica é fundamentada na antroposofia, doutrina mística formulada pelo espiritualista austríaco Rudolf Steiner. Seu princípio é a harmonia entre terra, plantas, animais e ser humano. Em suma, considera-se a propriedade como um organismo vivo, que demanda certos cuidados. Aí incluídos ritos cósmicos ligados à Lua, ao Sol, aos planetas e à direção dos ventos, que determinam as práticas agrícolas. “Para estabelecer o elo entre as formas de matéria e de energia de uma fazenda, só devem ser utilizados os elementos produzidos ali”, explica Harkaly. O que não for da região não será bem-vindo. Se a agricultura orgânica representa só 0,08% da área cultivada no País, os biodinâmicos, que envolvem a inclusão social e a preservação ambiental, são ainda mais raros.

É justamente a natureza a maior beneficiada com o cultivo orgânico. Exemplo emblemático são as usinas de açúcar São Francisco e a Santo Antônio, produtoras do açúcar orgânico Native, dono de 42% do mercado mundial. As usinas aboliram a tradicional queima da cana na hora da colheita. “Por volta de 99% dos canaviais são incendiados para se eliminar a palha, que traz pragas à plantação”, afirma Leontino Balbo Júnior, diretor da Native.

Como é difícil colher a cana verde manualmente, a empresa pesquisou durante cinco anos um processo mecanizado de colheita e um sistema de controle biológico, que libera inimigos naturais das pragas da cana-de-açúcar. A natureza foi o termômetro. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a ONG Ecoforça visitam todo mês as usinas e comparam imagens de satélite atuais com fotos de 15 anos atrás. “A mata nativa, que ocupava menos de 75 hectares, agora ocupa 186 hectares. Com isso, animais e aves originais voltaram à região”, explica Evaristo de Miranda, da divisão de monitoramento da Embrapa.

“Mesmo com a popularização, o consumo de orgânicos ainda é pequeno no Brasil”, afirma o diretor da Native. Potencial não falta. Uma feira de produtos orgânicos realizada na alemã Hannover bateu seus próprios recordes e exibiu alguns produtos brasileiros. Na lista de novidades européias, havia linhas de maquiagem, cosméticos, perfumes, tintura de cabelo, chás, champanhe e até preservativos com aroma natural. A febre dos produtos sem aditivos tóxicos é tanta que o Rio de Janeiro sediará a próxima feira Biofach, em setembro. Será a primeira em solo nacional. Pelo barulho recente contra a liberação da soja transgênica, certamente ela não será a única.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Oneomania: Gastadores Compulsivos


Muitos são os motivos que levam uma pessoa a comprar: a necessidade, a diversão, os modismos, a importância, o status e o apelo mercadológico do comércio. Mas há quem consuma pelo simples prazer de comprar, de adquirir alguma coisa independente da sua utilidade ou significado.

O ato de comprar indiscriminadamente é uma doença chamada oneomania, que atinge as pessoas caracterizadas como compradoras compulsivas. A oneomania é um distúrbio bastante controvertido do ponto de vista psiquiátrico e psicológico.

Alguns especialistas consideram a oneomania uma doença obsessiva-compulsiva. Nesse caso, a pessoa teria outros comportamentos compulsivos característicos, além de comprar – como contar objetos sem conseguir parar, por exemplo. No caso desses sintomas estarem ausentes, a oneomania é considerada um distúrbio no controle dos impulsos.

Oneomania atinge principalmente as mulheres


Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, coordenador de Ensino e Pesquisa do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso (AMJO), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a proporção é de quatro mulheres para cada homem com a doença.

Os especialistas ainda não sabem precisamente o porquê da oneomania ser mais comum em mulheres, mas acreditam que o motivo está diretamente relacionado a condições culturais. Os fatores que levam a doença a afetar principalmente as mulheres são objeto de estudo da equipe do AMJO.

Para Fuentes, a doença pode estar associada a transtornos do humor e de ansiedade, dependência de substâncias psicoativas (álcool, tóxicos ou medicamentos), transtornos alimentares (bulimia, anorexia) e de controles de impulsos.

A oneomania também emerge para aliviar sentimentos de grande frustração, vazio e depressão. É um desejo de possuir, de ter poder, que fica reprimido. Ao não conseguir dar vazão ao seu desejo, a pessoa sofre uma enorme pressão interna que a leva à necessidade de possuir coisas novas como única forma de prazer, explica a psicóloga Denise Gimenez Ramos, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP.

Os oneomaníacos têm o consumo como vício, assim como um alcoólatra que necessita da bebida. Enquanto está comprando, a pessoa sente alívio e prazer dos sintomas, que passado um tempo voltam rapidamente. O efeito do ato de comprar é semelhante ao de tomar uma droga.

Existe um grupo de 12 passos, nos moldes do AA, que ajuda muito as pessoas com esta compulsão: os Devedores Anônimos. O trecho abaixo foi retirado do site deles:
Nós descobrimos que é uma doença que nunca melhora, somente piora, com o passar do tempo. É uma doença progressiva em sua natureza, que não pode jamais ser curada, mas pode ser detida.

Antes de chegar ao Grupo de D.A., muitos devedores compulsivos se achavam pessoas irresponsáveis, moralmente fracas, ou as vezes, simplesmente "Más". O conceito do D.A. é o de que o devedor compulsivo é uma pessoa realmente doente que pode se recuperar caso ele ou ela siga, com toda sinceridade, um programa simples, que já provou ser um sucesso para outros homens e mulheres com um problema similar.

Como devedores compulsivos, nós nos enquadramos em padrões de gastos que não satisfazem nossas necessidades reais. Alguns de nós temos deixado de pagar cronicamente nossas contas e dividas, mesmo quando nós tínhamos o dinheiro para pagá-las. Ou nós temos feito pagamentos fielmente para 01 ou 02 credores e negligenciado os outros. Alguns de nós têm simplesmente ignorado nossas dívidas por algum tempo, na esperança de que, de alguma maneira, elas possam ser pagas milagrosamente. Alguns de nós têm sido gastadores compulsivos, comprando coisas de que não necessitamos, e nem queremos. Quando nós nos sentimos carentes, ou que, algo está faltando nós esbanjamos dinheiro em algo que não podemos pagar. Nós gastamos compulsivamente, entramos em dívidas, nos sentimos culpados, prometemos que nunca faremos isto de novo, e apenas repetimos o mesmo ciclo na próxima vez que o sentimento de "não sermos suficiente" aflore. tendo gasto além da conta, nós freqüentemente não tínhamos nada para mostrar no que gastamos, e ficamos nos perguntando para onde foi todo aquele dinheiro. Alguns gastadores compulsivos não estão realmente endividados, mas mesmo assim, são bem vindos ao D.A. O único requisito para ser membro do D.A., é o desejo de evitar fazer dívidas sem hipoteca(garantia).

Alguns de nós têm se tornado empobrecidos compulsivos, permitindo-nos ficar freqüentemente sem dinheiro, batalhando de uma crise financeira para outra. Há ainda alguns de nós que acham quase impossível gastar dinheiro consigo mesmos. A televisão estraga e fica estragada, aquele par de sapatos, pronto para ser aposentado, é obrigado a rodar mais um ano ainda, e até problemas de saúde e dentários não são cuidados.

Esta doença afetou nossa visão de nós mesmos e do mundo à nossa volta. Ela nos levou a acreditar que não éramos "suficientes" - em casa, no trabalho, em situações sociais, em relacionamentos amorosos. Ela também nos levou a crer que não há o suficiente no mundo lá fora para nós. esta doença criou uma sensação de pobreza em tudo o que fazíamos e víamos. Em reação a isso, nós nos recolhíamos para um mundo de fantasias, ficávamos preocupados com dinheiro, e evitávamos responsabilidades.

Quando nós participamos da nossa primeira reunião de D.A., nós estávamos perdidos, por muitas perdas: perda de salário, que havia sido engolido por dívidas e por gastos compulsivos; perda de fé; perda de respeito próprio e paz de consciência; perda de amizades; e algumas vezes de saúde, emprego e família. Muitos de nós buscamos ajuda de vários indivíduos ou organizações, mas sempre acabávamos nos sentido como se ninguém entendesse nosso problema. Nossa solidão fez com que nos recolhêssemos mais e mais em nós mesmos. Nós perdemos a vitalidade e o interesse na vida. Nós não podíamos trabalhar ou cuidar de nós mesmos ou de nossos entes queridos apropriadamente. Alguns de nós achamos que estávamos ficando loucos e outros chegaram a contemplar o suicídio. Esse senso de desespero, ou "chegar ao fundo do poço", foi nosso primeiro passo em Devedores Anônimos. Nós vimos que nossas tentativas de esquematizar e manipular nossas vidas nunca funcionaram. Nós admitimos que éramos impotentes perante as dívidas. Nós estávamos prontos para pedir ajuda.

Uma outra forma de tratamento que pode trazer grande ajuda é a Terapia Biográfica, um método onde a vida é revista de uma forma panorâmica.

Essencial para o controle desta doença é a organização financeira. Saber quanto se ganha e quanto se gasta é a chave para o controle. Há um site muito bom que permite isto: o money tracking. Um programa excelente (e grátis) criado por um brasileiro, Cristiano Meira Magalhães chamado Planejamento Financeiro também é muito útil para este fim.

Conseqüência do consumismo

É isso que a Barbie quer!

Livre-se das dívidas

No vermelho? Veja como recuperar a saúde financeira.
Por Dirley Fernandes
Depois de um ano e meio confinada em casa, recuperando-se de um transplante de medula, a pequena Paola, então com 9 anos, pediu aos pais, Sergio e Rocio Torres, para ir à colônia de férias de sua escola. "Ela estava animadíssima com a idéia, pois tinha ficado muito tempo presa", conta Sergio.

Os pais nem titubearam: mandaram a menina para a colônia de férias, mesmo sem ter dinheiro para pagar. Uma atitude temerária para quem, alguns meses antes, tinha voltado dos Estados Unidos com o cartão de crédito cancelado e nenhum dinheiro no bolso.

O casal de dentistas juntou ali mais uma dívida às que já tinha feito desde que, em 1992, vendeu tudo e passou um ano na Espanha tentando a cura para a filha nascida poucos meses antes. Somavam-se às dívidas os empréstimos contratados na volta para remontar o consultório a fim de poderem trabalhar. Sem contar as contas deixadas nos Estados Unidos durante o tempo em que estiveram por lá, tratando a doença genética (talassemia) de Paola.

O casal ainda amargou a perda total do crédito, quando a sociedade com uma colega de profissão na compra de uma sala em um shopping de São José dos Campos (SP), onde moram, fracassou. "Tivemos de desistir do negócio, mas não formalizamos a saída. A sócia não pagou as prestações restantes e ficamos com o nome sujo", explica Sergio.

No fim de 1999, os Torres deviam cerca de R$ 30 mil no Brasil e o equivalente a R$ 600 mil nos Estados Unidos. Estava mais do que na hora de começarem a curar o bolso. Assim, deram início aos cortes de gastos: as luzes foram apagadas, as compras de roupas, reduzidas ao máximo e, principalmente, os freqüentes fins de semana na praia foram adiados.

Ao mesmo tempo, o casal aumentou o número de pacientes atendidos diariamente e está reduzindo a dívida. "No fim de 2001 conseguimos quitar os refinanciamentos. Ainda temos algumas dívidas grandes, mas já atingimos um equilíbrio", conta Sergio. "O melhor é que não temos mais aquele monte de pendências sobre nossa cabeça."

Os Torres não estão sozinhos. Um relatório da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), divulgado em agosto de 2002, mostra que o pagamento de despesas financeiras é o item mais pesado do orçamento dos paulistanos, levando R$ 29,83 de cada R$ 100 da renda das famílias - no fim de 2001, eram R$ 27. Depois de pagar a prestação do automóvel, os juros do cartão de crédito e a parcela do empréstimo bancário, sobra muito pouco para as famílias. Segundo Miguel José de Oliveira, vice-presidente da Anefac e coordenador do estudo, a realidade é a mesma no resto do país: "O brasileiro não deve muito, mas deve mal. Os juros são altos e os prazos, curtos."

Entre 1991 e 2001, as despesas feitas com cartão de crédito no Brasil saltaram de 5,2 bilhões de dólares para 26,7 bilhões de dólares. Segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), em média, 20% desse valor não é quitado no vencimento. E então começa a bola de neve dos juros sobre juros. "A situação é gravíssima. Os financiamentos são usados como complementação de renda", afirma Donizete Piton, presidente da Andif (Associação Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro). Os números da Serasa comprovam: o índice de inadimplência do brasileiro subiu 84% de janeiro de 1999 a outubro de 2002.

Alguns, como os Torres, foram surpreendidos por problemas dramáticos: doenças na família, perda de emprego ou separação. Mas o problema em nossa sociedade é ainda mais profundo do que isso, acredita o consultor José Eduardo Pereira Filho, que há quatro anos desenvolve um trabalho de assessoria financeira pessoal e criou um programa de rádio sobre planejamento financeiro em Poços de Caldas (MG). "Nossa referência de riqueza é o que é ostentado, especialmente os carros importados e as viagens para o exterior." De fato, apesar das sucessivas crises econômicas, a frota brasileira de veículos continua crescendo, tendo atingido, em junho de 2002, 34,2 milhões de veículos - 6,5 milhões a mais do que em 1996. Hoje, há um veículo nas ruas para cada cinco habitantes; em 1993, era um para 11, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Nas capitais, essa relação é ainda menor. Em Goiânia, há um veículo para cada 1,77 habitante. Nos bairros de classe média é difícil achar uma garagem de casa com menos de dois carros.

Acrescente a isso luxos antigamente inimagináveis, desde aparelhos de TV de telas imensas, DVDs e home theaters a assinaturas de canais via satélite e Internet via cabo. E mais: celulares modernos, computadores e fornos de microondas, que muitos brasileiros consideram essenciais. Enfim, uma porção de comodidades pelas quais, no fim, vai ser preciso pagar.

O problema não é privilégio de apenas uma classe social. Pereira atende de profissionais liberais a empresários e pessoas de baixa renda - que gastam mais do que ganham e não sabem como pagar.

"É um exército de inadimplentes andando pelas ruas", diz Piton. "Muitos usam o limite do cheque para compras na farmácia e no supermercado. A dívida aumenta sem parar e as pessoas acabam acreditando que nunca vão conseguir pagar. Quando o desemprego atinge alguém da família, a situação fica ainda pior."

Entretanto, por mais terrível que a situação pareça, com as ferramentas corretas todos podem sair do buraco. E embora isso represente sacrifício no início, a mudança de rumos na vida financeira agora vai garantir um futuro mais seguro.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

A Responsabilidade É Nossa!!!!


ONU afirma que mudanças climáticas são causadas pelo homem
Artigo: Não há mais tempo a perder
Publicada em 02/02/2007 às 07h23m
André Trigueiro*
Não há mais tempo a perder. Estamos todos juntos no mesmo barco e inúmeros indicadores apontam na mesma direção: se não dermos a devida resposta à
ameaça que nos espreita, ficaremos marcados na História como a civilização que teve a competência de diagnosticar a maior de todas as tragédias ambientais
sem que isso tenha justificado uma ampla mobilização da sociedade. Esta é a razão pela qual muitos estudiosos classificam o aumento do aquecimento global
como um problema ético: sabemos que ele existe, nos reconhecemos como agentes do processo e, ainda assim, pouco ou nada fazemos no sentido de enfrentar a
situação com a seriedade e o senso de urgência que o assunto requer.
É chegado o momento de reconhecer o inimigo para enfrentá-lo com consciência e determinação. Ele é invisível, não tem cheiro nem faz mal à saúde, mas
quando aglomerado aos bilhões de toneladas na atmosfera por conta da queima progressiva de petróleo, gás natural e carvão (as queimadas no Brasil também
entram na conta e, no caso específico da Amazônia, a área verde que virou fumaça no ano passado equivale em tamanho a Israel), tem o poder de mudar o clima,
o ciclo das chuvas, o nível dos oceanos e a expectativa de vida de inúmeras espécies e ecossistemas. Jamais experimentamos algo parecido numa escala de
tempo tão curta.
O dióxido de carbono (CO2) aparece no Tratado de Kyoto como o mais importante gás de efeito estufa, mas para que o acordo internacional saísse do papel
foram definidos prazos e metas bastante modestos: uma redução média de 5% nas emissões de gases de efeito estufa dos países desenvolvidos entre 2008 e 2012
em relação às emissões destes mesmos países ocorridas em 1990, quando o mínimo necessário seria de 60% (ou mesmo 80%, como aponta o recém lançado
Relatório Stern, assinado pelo ex-Economista Chefe do Banco Mundial). Mesmo reconhecendo que a substituição dos combustíveis fósseis por outras fontes de
energia deva acontecer de forma gradual, o ritmo das mudanças é extremamente lento. O mérito de Kyoto é dar início a um processo que, embora já tenha
produzido alguns resultados importantes, se arrasta em passo de tartaruga enquanto as mudanças climáticas vêm a galope.
Tão importante quanto o comprometimento dos países em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, principalmente de CO2, são as iniciativas individuais.
O que cada um de nós está disposto a fazer nesse sentido? Que pequenas mudanças podemos aplicar em nossa rotina em favor desse objetivo maior? Mudança é
uma palavra que assusta, e que muitos de nós associamos de imediato a sacrifício. Nem sempre é assim. Avalie o que lhe convém, considerando que cada
tonelada a menos de carbono na atmosfera faz toda a diferença.
Vejamos alguns exemplos do que é possível fazer hoje em benefício de um futuro menos traumático:
1) Transportes: Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, as maiores emissões de CO2 têm origem nos automóveis. Sempre que possível, deixe o carro na
garagem e privilegie o uso de transportes públicos. Estima-se que 80% de nossos deslocamentos diários se resolvam num raio de 5 km de distância, o que abre
caminho para o uso de bicicletas ou pequenas caminhadas. Se o uso do carro for inevitável, prefira os modelos flex rodando a álcool, com motores sempre
regulados, pneus calibrados e aceleração baixa.
2) Árvores: As espécies vegetais estocam carbono nas raízes, troncos, galhos e folhas. Quanto mais árvores plantarmos, mais carbono estaremos retirando da
atmosfera. O inverso é rigorosamente verdadeiro: para cada árvore destruída haverá mais carbono agravando o aquecimento global.
3) Construções inteligentes: Luz e ventilação naturais demandam um consumo menor de energia. Certos materiais usados no revestimento de casas e escritórios
também ajudam a conservar a temperatura ambiente de modo agradável, sem a necessidade de ventiladores ou aparelhos de ar-condicionado.
4) Consumo: Um estilo de vida consumista acelera a exaustão dos recursos naturais. Todos os produtos demandam matéria-prima e energia para existir. Quem
consome muito além do necessário agrava a pressão sobre os estoques de energia, com reflexos importantes sobre as emissões de CO2. Apesar do que apregoam
muitas campanhas publicitárias, é possível ser feliz com menos, bem menos do que aparece nos comerciais.
5) Neutralizando as emissões: A Copa do Mundo da Alemanha foi a primeira da História a neutralizar totalmente as emissões de gases estufa. Com precisão
germânica, a organização do evento estimou a quantidade de CO2 emitida pelos 3 milhões de visitantes e investiu em projetos que retiraram da atmosfera a
mesma quantidade de gás estufa. Isso já está sendo feito no Brasil e no mundo em shows de música, lançamentos de livros ou CDs. Para muitos empresários,
esse é um excelente filão de negócios na direção da responsabilidade social corporativa.
Seria ótimo se a responsabilidade de reduzir as emissões de CO2 fosse apenas dos países. Mas estamos sendo convocados individualmente à ação enquanto
consumidores, eleitores e habitantes de um país em desenvolvimento, categoria apontada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU
como bastante vulnerável às turbulências que vêm por aí. Podemos e devemos nos antecipar a isso.
André Trigueiro é jornalista da Globo News e da CBN, pós-graduado em Gestão Ambiental na COPPE/UFRJ, criador e professor do curso de
Jornalismo Ambiental da PUC/RJ e autor do livro "Mundo Sustentável", da Editora Globo.
(Artigo publicado em 21/11/2006 no jornal "O Globo")

Vítimas no banco de trás do carro são 70% do total - O Globo Online

Vítimas no banco de trás do carro são 70% do total - O Globo Online
É impressionante como pessoas bem informadas preferem deixar os filhos sem cinto do que se estressar com reclamações das crianças. Falta autoridade e vontade.