É isso que a Barbie quer!
Livre-se das dívidas
No vermelho? Veja como recuperar a saúde financeira.
Por Dirley Fernandes
Depois de um ano e meio confinada em casa, recuperando-se de um transplante de medula, a pequena Paola, então com 9 anos, pediu aos pais, Sergio e Rocio Torres, para ir à colônia de férias de sua escola. "Ela estava animadíssima com a idéia, pois tinha ficado muito tempo presa", conta Sergio.
Os pais nem titubearam: mandaram a menina para a colônia de férias, mesmo sem ter dinheiro para pagar. Uma atitude temerária para quem, alguns meses antes, tinha voltado dos Estados Unidos com o cartão de crédito cancelado e nenhum dinheiro no bolso.
O casal de dentistas juntou ali mais uma dívida às que já tinha feito desde que, em 1992, vendeu tudo e passou um ano na Espanha tentando a cura para a filha nascida poucos meses antes. Somavam-se às dívidas os empréstimos contratados na volta para remontar o consultório a fim de poderem trabalhar. Sem contar as contas deixadas nos Estados Unidos durante o tempo em que estiveram por lá, tratando a doença genética (talassemia) de Paola.
O casal ainda amargou a perda total do crédito, quando a sociedade com uma colega de profissão na compra de uma sala em um shopping de São José dos Campos (SP), onde moram, fracassou. "Tivemos de desistir do negócio, mas não formalizamos a saída. A sócia não pagou as prestações restantes e ficamos com o nome sujo", explica Sergio.
No fim de 1999, os Torres deviam cerca de R$ 30 mil no Brasil e o equivalente a R$ 600 mil nos Estados Unidos. Estava mais do que na hora de começarem a curar o bolso. Assim, deram início aos cortes de gastos: as luzes foram apagadas, as compras de roupas, reduzidas ao máximo e, principalmente, os freqüentes fins de semana na praia foram adiados.
Ao mesmo tempo, o casal aumentou o número de pacientes atendidos diariamente e está reduzindo a dívida. "No fim de 2001 conseguimos quitar os refinanciamentos. Ainda temos algumas dívidas grandes, mas já atingimos um equilíbrio", conta Sergio. "O melhor é que não temos mais aquele monte de pendências sobre nossa cabeça."
Os Torres não estão sozinhos. Um relatório da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), divulgado em agosto de 2002, mostra que o pagamento de despesas financeiras é o item mais pesado do orçamento dos paulistanos, levando R$ 29,83 de cada R$ 100 da renda das famílias - no fim de 2001, eram R$ 27. Depois de pagar a prestação do automóvel, os juros do cartão de crédito e a parcela do empréstimo bancário, sobra muito pouco para as famílias. Segundo Miguel José de Oliveira, vice-presidente da Anefac e coordenador do estudo, a realidade é a mesma no resto do país: "O brasileiro não deve muito, mas deve mal. Os juros são altos e os prazos, curtos."
Entre 1991 e 2001, as despesas feitas com cartão de crédito no Brasil saltaram de 5,2 bilhões de dólares para 26,7 bilhões de dólares. Segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços), em média, 20% desse valor não é quitado no vencimento. E então começa a bola de neve dos juros sobre juros. "A situação é gravíssima. Os financiamentos são usados como complementação de renda", afirma Donizete Piton, presidente da Andif (Associação Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro). Os números da Serasa comprovam: o índice de inadimplência do brasileiro subiu 84% de janeiro de 1999 a outubro de 2002.
Alguns, como os Torres, foram surpreendidos por problemas dramáticos: doenças na família, perda de emprego ou separação. Mas o problema em nossa sociedade é ainda mais profundo do que isso, acredita o consultor José Eduardo Pereira Filho, que há quatro anos desenvolve um trabalho de assessoria financeira pessoal e criou um programa de rádio sobre planejamento financeiro em Poços de Caldas (MG). "Nossa referência de riqueza é o que é ostentado, especialmente os carros importados e as viagens para o exterior." De fato, apesar das sucessivas crises econômicas, a frota brasileira de veículos continua crescendo, tendo atingido, em junho de 2002, 34,2 milhões de veículos - 6,5 milhões a mais do que em 1996. Hoje, há um veículo nas ruas para cada cinco habitantes; em 1993, era um para 11, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Nas capitais, essa relação é ainda menor. Em Goiânia, há um veículo para cada 1,77 habitante. Nos bairros de classe média é difícil achar uma garagem de casa com menos de dois carros.
Acrescente a isso luxos antigamente inimagináveis, desde aparelhos de TV de telas imensas, DVDs e home theaters a assinaturas de canais via satélite e Internet via cabo. E mais: celulares modernos, computadores e fornos de microondas, que muitos brasileiros consideram essenciais. Enfim, uma porção de comodidades pelas quais, no fim, vai ser preciso pagar.
O problema não é privilégio de apenas uma classe social. Pereira atende de profissionais liberais a empresários e pessoas de baixa renda - que gastam mais do que ganham e não sabem como pagar.
"É um exército de inadimplentes andando pelas ruas", diz Piton. "Muitos usam o limite do cheque para compras na farmácia e no supermercado. A dívida aumenta sem parar e as pessoas acabam acreditando que nunca vão conseguir pagar. Quando o desemprego atinge alguém da família, a situação fica ainda pior."
Entretanto, por mais terrível que a situação pareça, com as ferramentas corretas todos podem sair do buraco. E embora isso represente sacrifício no início, a mudança de rumos na vida financeira agora vai garantir um futuro mais seguro.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
Conseqüência do consumismo
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