quinta-feira, janeiro 25, 2007
Ao Natural - O Crescimento da Fitoterapia
Com apoio de médicos e cientistas, a fitoterapia, tratamento à base de plantas medicinais, cresce no Brasil
“Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá (...)
Nossas várzeas têm mais flores
Nossos bosques têm mais vida (...)
Minha terra tem primores
que tais não encontro eu cá”
Gonçalves Dias – Canção do exílio
Juliane Zaché
A flora brasileira sempre foi exaltada em verso e prosa, como no trecho acima do poema de Gonçalves Dias. Hoje em dia, porém, não é apenas a beleza de nossas florestas que encanta o mundo. A ciência está comprovando a eficácia de receitas populares, feitas à base de ervas, para tratar a saúde. Os pesquisadores sabem que existe um tesouro precioso nas entranhas das árvores e plantas nativas do Brasil. Por isso, pense duas vezes antes de recusar aquele chazinho de sua avó contra enjôos, por exemplo. A bebida pode ser eficaz. Por trás desta garantia estão estudos científicos de faculdades renomadas, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além disso, tornou-se comum encontrar artigos sobre fitoterápicos (remédios elaborados com o princípio ativo de vegetais) em publicações científicas de prestígio, como a revista Lancet e o British Medical Journal. E a medicina dá respaldo à fitoterapia (tratamento à base de plantas medicinais). “Ela pode ser uma alternativa para as pessoas”, afirma o nefrologista Nestor Schor, da Unifesp, que pesquisa em seres humanos a planta quebra-pedra contra cálculos nos rins.
Não é só a medicina que acordou para a importância das plantas. Também estão pegando carona na onda verde os laboratórios farmacêuticos e as empresas de cosméticos. Essas indústrias descobriram que estão diante de um filão muito rentável. E, obviamente, não querem perder tempo. A consultoria Booz.Allen & Hamilton estima que o mercado mundial de fitoterapia movimente cerca de US$ 22 bilhões por ano. Em 2000, o setor faturou nos Estados Unidos US$ 6,3 bilhões. Na Europa, foram US$ 8,5 bilhões. No Brasil, não há estatísticas oficiais, mas calcula-se que o faturamento esteja na casa dos US$ 500 milhões. A previsão dos consultores é de que em 2010 esse montante passe a ser US$ 1 bilhão no País. Enquanto isso, o segmento vai se diversificando. Já se encontram nas farmácias desde medicamentos contra tensão pré-menstrual (TPM) até cremes antienvelhecimento. “É um mercado valioso, pois cerca de 20% dos microrganismos daqui não são encontrados lá fora”, afirma José Eduardo de Mello, vice-presidente de relações institucionais do Laboratório Aché, que investe na área. “O Brasil tem potencial para ser o grande produtor de novas drogas fitoterápicas”, acredita.
Impotência – Ainda assim, o consumidor brasileiro não deixa de recorrer a alternativas tiradas do jardim alheio. Um dos tratamentos fitoterápicos que vêm despertando a atenção de médicos e pacientes é a planta indiana Tribulus terrestris, comercializada no Brasil em forma de cápsulas e gel. Ela é indicada contra a falta de libido e a impotência. Recentemente, seus efeitos foram apresentados num congresso no Rio pelo ginecologista Décio Alves, coordenador do serviço de terapias naturais e acupuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pesquisas americanas já comprovaram a ação da planta nos casos de impotência. Alves está testando o remédio para tratar a falta de desejo associada à menopausa – quando o nível de hormônios se altera, diminuindo a lubrificação genital, entre outros efeitos. Aparentemente, com sucesso. “Por meio de mecanismos complexos, o vegetal aumenta em 30% a produção de testosterona (hormônio presente em baixas doses na mulher). Ele modifica os níveis de neurotransmissores no cérebro, estimulando o desejo e o bem-estar”, explica Alves. A carioca Frigg Lopes de Oliveira, 58 anos, está feliz com o tratamento. Há dois anos, ela entrou na menopausa. “Fiquei sem desejo sexual”, conta. Há seis meses, ela passou a usar a Tribulus. “Hoje me sinto mais viva e meu marido está adorando o resultado”, comemora.
Efeito – Contra a impotência, a planta é benéfica porque melhora a circulação sanguínea, o que facilita a irrigação do pênis e sua ereção. Alves vê ainda mais uma vantagem em usar a Tribulus em vez do Viagra. “A pílula ajuda apenas na vascularização local, enquanto a planta atua no sistema nervoso, no raciocínio e na memória, sendo que a boa performance sexual também é consequência da melhora geral da saúde”, justifica. Até o momento, Alves não notou nenhum efeito colateral em seus pacientes. Mas o médico não recomenda a planta, por exemplo, para quem já teve câncer de próstata. “Isso porque a doença está ligada ao aumento da testosterona”, esclarece. O especialista também ressalta a importância do acompanhamento médico durante o tratamento com a planta indiana.
Mas os nossos quintais também têm opções naturais para problemas sexuais, assim como outras alternativas para tratar diversas doenças. No primeiro caso, a sabedoria popular recomenda a nó-de-cachorro (Heteropterys aphrodisiaca O. Mach), muito encontrada na região do Pantanal. Lá, usam-se a raiz e a casca da erva, curtidas na cachaça, para preparar uma bebida com suposto efeito afrodisíaco. Por enquanto, essa ação ainda não foi testada. O interesse dos cientistas em relação ao vegetal está no campo da memória e do aprendizado. Pesquisadores da Unifesp fizeram estudos com ratos jovens e velhos. Para testar a memória dos roedores, os animais foram colocados em uma caixa com compartimentos que levavam a uma isca. Dentro dela havia um equipamento que dava choques se os bichos encostassem o nariz no local, instalado próximo ao alimento. “Os ratos jovens aprenderam rapidamente que não deviam atravessar a caixa, mas os idosos demoraram um pouco para perceber isso”, conta Elisaldo Carlini, professor do departamento de psicobiologia da Unifesp. Depois, durante sete dias todos os animais beberam um líquido à base do extrato da planta nó-de-cachorro. Novamente, eles foram colocados à prova. Só que dessa vez os ratos idosos aprenderam a lição tão bem quanto os jovens.
Sucesso – A experiência teve tanta repercussão que o Laboratório Biossintética, de São Paulo, adquiriu a patente da planta e está realizando pesquisas mais avançadas. “O nosso objetivo é criar no futuro um medicamento eficaz contra a perda de memória”, informa Márcio Falci, diretor médico do laboratório. Falci também vê outras qualidades que justificam o investimento de R$ 2 milhões na planta nó-de-cachorro. Para ele, o desenvolvimento de produtos fitoterápicos é trabalhoso, mas o processo é menos complexo do que fabricar remédios químicos. “A sabedoria popular já te dá pistas importantes sobre o uso medicinal das plantas, enquanto no caso dos sintéticos é preciso desenvolver uma molécula”, acrescenta.
Outro laboratório que também está interessado nas pesquisas da Unifesp é o Aché, que criou uma área de fitoterápicos. Mas a empresa está atenta à famosa espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), que combate a úlcera – inflamação da parede estomacal. “Estamos começando os estudos com voluntários”, afirma José de Mello. No departamento dedicado ao mundo verde, estão em estudos o efeito terapêutico de plantas como a erva-baleeira, conhecida popularmente por atuar como antiinflamatório e também por agir contra a úlcera. O laboratório pretende desenvolver remédios a partir desses trabalhos. O Aché tem ainda projetos na região de Tocantins para analisar o potencial da vegetação do cerrado.
Quem também aposta na fitoterapia é a Ativos Farmacêutica, de Campinas (SP). Ela patenteou a pesquisa da planta artemísia (Artemisia annua) para avaliar a ação contra casos graves de malária – infecção causada pelo parasita Plasmodium –, resistentes à terapia convencional. O estudo, que teve resultados positivos, foi conduzido pela divisão de farmacologia e toxicologia da Universidade de Campinas (Unicamp). “Substâncias existentes na planta combatem a malária”, garante o farmacologista João Ernesto de Carvalho, um dos responsáveis pela pesquisa. “Estamos esperando a abertura de uma licitação, pois vamos tentar vender a droga para o governo, já que a malária é um problema de saúde pública”, diz Alexandre Frederico, diretor médico da Ativos. A Unicamp também está estudando a ação terapêutica de 30 plantas do Estado de São Paulo. Desse número, seis já mostraram benefícios contra células tumorais in vitro.
No sertão nordestino também se encontra um dos alvos da fitoterapia. A planta aroeira-do-sertão (Myracrodum uru de uva) está na mira da Universidade Federal do Ceará. Ela se mostrou eficaz no tratamento de feridas nos genitais e na virilha. “Os testes foram feitos apenas em ratos”, observa o farmacologista Francisco Matos, orientador da tese de mestrado baseada nessa experiência. “A aroeira tem várias substâncias que tratam a mucosa vaginal”, esclarece. Os benefícios da planta já eram conhecidos pelas sertanejas. Elas cozinham a casca de aroeira, despejam o líquido em uma bacia e fazem o famoso banho de assento.
Gripe – O amplo uso popular das ervas medicinais foi um dos fatores que levaram o cantor Luiz Melodia, 50 anos, a adquirir o hábito de recorrer às soluções naturais. “Desde criança, minha mãe preparava meu banho com erva-de-santa-maria para curar inflamações da pele”, recorda-se. Hoje, sempre que pode ele consome fitoterápicos, principalmente para enfrentar gripes e resfriados. Para casos em que uma simples gripe se agrava e se transforma em tuberculose, pesquisadores da Universidade Estadual do Estado de São Paulo, em Araraquara, descobriram uma alternativa natural. O trabalho, coordenado pela microbiologista Clarice Fujimura, mostrou que, em laboratório, o óleo essencial de eucalipto, do tipo Eucaliptus citriodora, teve ação tóxica contra a bactéria responsável pela doença. No momento, os especialistas tentam, por meio de técnicas complexas, aumentar a potência terapêutica do eucalipto.
As investidas não param por aí. A Fundação Oswaldo Cruz, do Rio, está criando um megahorto na zona oeste da cidade para a cultura de plantas medicinais. Cerca de 100 espécies serão cultivadas. Delas, 34 já vêm sendo estudadas para a produção de remédios. O Laboratório de Produtos Naturais, que pertence à instituição, investiga as propriedades farmacológicas de plantas normalmente consumidas pela população. Uma delas é a erva-cidreira brasileira. “Até agora se conhece o efeito da européia, usada como calmante”, diz o farmacêutico José Luiz Ferreira, um dos integrantes do projeto.
Mas o entusiasmo pelo poder verde não significa que as drogas químicas serão substituídas pelas fitoterápicas. “Dependendo do caso, se for necessário um resultado mais rápido, o ideal é indicar os sintéticos, que são mais potentes”, observa José Augusto Zuard, ginecologista do Rio que receita há três anos fitoterápicos para suas pacientes. “Eles são menos agressivos do que os medicamentos químicos, pois sua ação é mais lenta. Mas não dá para achar que, só porque é natural, a planta seja inofensiva”, ressalta. Certos remédios feitos com o princípio ativo de plantas só devem ser vendidos com prescrição médica. Os comercializados sem receita também exigem atenção. Para adquirir os remédios naturais com segurança é necessário seguir algumas regras, como o nome do farmacêutico responsável. Os fitoterápicos podem causar prejuízos ao organismo se não forem tomados com precaução. O ginko biloba, por exemplo, promete melhorar a memória, mas, se for consumido em excesso, pode causar fortes dores de cabeça. “Outra dica é evitar comprar a planta in natura, já que a olho nu não dá para ver se ela está contaminada”, avisa Luís Carlos Marques, farmacêutico da Universidade Estadual do Maringá (PR).
Os fitoterápicos são remédios sérios. Tanto é que a farmacologia (ramo da medicina que estuda medicamentos) surgiu a partir de pesquisas de substâncias extraídas de ervas. Atualmente, pelo menos 25% dos medicamentos alopáticos derivam de plantas – a aspirina, por exemplo, originalmente foi extraída da planta Salix alba (daí o nome de seu princípio: ácido salicílico). Uma das vantagens dos remédios naturais é o preço, em geral mais barato do que os dos medicamentos convencionais. É verdade que existem alguns fitoterápicos que pesam mais no bolso. De acordo com o farmacêutico Marques, esses remédios necessitam de várias etapas para serem produzidos, o que pode encarecê-los. De uma forma ou de outra, as pessoas passaram a recorrer mais às soluções vindas dos vegetais. “Houve uma inversão de valores. A população está buscando alternativas mais naturais, pois perceberam que a tecnologia não soluciona todos os problemas”, avalia o médico carioca Alexandros Botsaris, especialista em fitoterapia. É o caso da consultora de marketing Roseclair Fujita, 40 anos, de São Paulo. Desde a adolescência, ela usa fitoterápicos. “Qualquer problema que tenho, lanço mão deles”, conta. O hábito se estendeu à família. Seus filhos, Jade, 19 anos, e Ubiatan, 17, também são adeptos da linha natureba. Ainda mais quando o tratamento veio da flora brasileira. “É preciso valorizar o que é nosso”, diz Roseclair.
Hormônios – Entre os consumidores de fitoterápicos estão muitas mulheres. Principalmente as que entram na menopausa. Nesse período, é comum elas receberem reposição hormonal (com drogas químicas) para evitar sintomas como ondas de calor. Uma alternativa para essas pacientes é o uso de fito-hormônios, como o Clifemin (à base da planta canadense Cimicifuga racemosa), do Laboratório Herbarium, de Curitiba. Os fito-hormônios têm substâncias encontradas nas plantas que possuem a estrutura química ou atividade semelhante ao dos hormônios produzidos pelo organismo, como a progesterona. Só que a ação deles é mais leve do que a reposição hormonal tradicional. “Dessa forma, os efeitos colaterais são menores”, assegura Carina do Amaral Gurgel, farmacêutica da Naturativa, farmácia de manipulação, no Rio. Os fito-hormônios são muito indicados para mulheres com casos de câncer na família. Isso porque há relação entre a reposição química de progesterona (cujo nível se altera durante a menopausa) e o surgimento de tumores. Por estar dentro desse grupo de risco, Rogélia Pereira Ferreira, 47 anos, adotou o fito-hormônio. Ela usa o fitoterápico chinês Dong Quai (feito com a raiz da Angelica sinensis), um dos lançamentos da farmácia Naturativa, do Rio. “Tinha ondas de calor, que diminuíram bastante”, conta. “A planta é rica em fitoestrógenos, compostos que substituem a carência de hormônios do organismo”, explica Carina.
Sensibilidade – Há também opções para quem sofre de TPM, distúrbio provocado por alterações hormonais e caracterizado por sintomas como irritabilidade e cansaço. No mercado fitoterápico, uma alternativa está fazendo sucesso: as cápsulas de óleo de prímula. A advogada Regina Teixeira, 31 anos, está contente com o uso da planta. “Sentia muitas dores musculares. Nem analgésicos adiantavam. Os sintomas diminuíram com as cápsulas”, diz. O princípio ativo que comanda sua ação contra a TPM é o ácido gama linolênico, extraído de sementes de prímula. “O linolênico regula a liberação de prostaglandina, substância que atua nas reações inflamatórias e ajuda a diminuir a dor. Quando seu nível cresce durante a TPM, a sensibilidade também aumenta”, explica o ginecologista Eliezer Berenstein, autor do livro Inteligência hormonal da mulher (Editora Objetiva). Mas ele adverte que, no caso de sintomas como compulsão alimentar e retenção de liquidos, a prímula não mostra bons resultados.
As mulheres são beneficiadas pela fitoterapia também na área de cosméticos. A farmácia Naturativa, por exemplo, tem como novidade o creme Iris Iso, extraído do lírio. Ele promete fortalecer a pele e hidratá-la. Também na linha beleza, há mais opções. Em 2000, a Natura lançou a família Ekos, com produtos feitos a partir de substâncias de plantas. Inspirada nas riquezas da Amazônia, o objetivo é resgatar os hábitos medicinais da população. Este ano, a Natura deu mais uma tacada no segmento. Comprou o laboratório carioca Flora Medicinal, que atua no setor há 89 anos. “Queremos continuar mantendo a imagem de uma empresa que se preocupa com a saúde”, ressalta Eduardo Luppi, diretor-geral da Flora Medicinal, recém-adquirida.
Benefício – Os homens também tiram proveito da onda verde. O Instituto de Beleza Anna Pegova, em São Paulo, lançou sua linha de fitoterápicos, composta por produtos como Circuline, cápsulas feitas com folhas de uva. A empresa garante que o medicamento estimula a circulação sanguínea, evitando dores nas pernas, por exemplo. O corretor de imóveis José Arnaldo Casasus, 37 anos, de São Paulo, toma o remédio para prevenir inchaço nas pernas. “Sinto-me mais disposto a realizar minhas caminhadas”, garante. A incorporação de princípios ativos extraídos de plantas por diversos segmentos da sociedade reforça o poder da fitoterapia. E mostra que algumas soluções para nossos problemas podem estar florescendo bem diante de nossos olhos.
Colheita na hora certa
A planta é um organismo vivo e suas estruturas são engenhosas como o corpo humano. E não funcionam sempre da mesma forma. A espécie pode sofrer, por exemplo, com a ação do tempo, o que altera a concentração de seus princípios ativos. Sendo assim, é importante saber a hora certa de colher o vegetal, pois suas substâncias são mais potentes numa determinada estação. “Se ela não for colhida na época ideal, é preciso usar técnicas especiais de cultivo para aumentar a presença dos componentes”, ressalta Luis Vitor do Sacramento, botânico da Universidade Estadual de São Paulo, em Araraquara. Uma das funções do especialista é sair a campo para identificar informações sobre as plantas e analisá-las em laboratório.
Sem padrão definido
Um obstáculo que os fabricantes de fitoterápicos são obrigados a enfrentar é a ausência de padrões na dosagem dos princípios ativos das plantas que formam a base de um medicamento. Isso significa, por exemplo, que um laboratório pode produzir um extrato com 20% de uma substância e outro com apenas 10%. “Obviamente, a qualidade do produto fica comprometida”, diz Olga Mellone, diretora médica do Laboratório White Hall, em São Paulo. A Agência Nacional Vigilância Sanitária (Anvisa) está atenta à questão. O órgão diz que só dá para controlar o problema exigindo estudos científicos dos fabricantes. “Não adianta ir na mata pegar folhas e fazer um chazinho”, diz Maurício Viana, gerente de medicamento da instituição.
Tesouro brasileiro ameaçado
Não resta dúvida sobre a riqueza da flora brasileira. Mas ainda há muitos espinhos envolvidos com a exploração de nossas matas. Para alguns especialistas, um obstáculo é a ineficácia da legislação. A Resolução 17/2000, que regulamenta a fitoterapia, estipula um prazo de dez anos de estudos para comprovar a ação das plantas. “É um tempo longo para pesquisas. Alguns empresários preferem investir nas plantas chinesas com efeito já comprovado”, diz Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo. Maurício Viana, gerente de medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), desconhece essa fixação de prazo. Ele informa que a agência exige apenas estudos sérios comprovando os efeitos dos vegetais. Os especialistas se queixam também da atuação dos órgãos governamentais. “Procurei a Anvisa para saber o número de empresas de fitoterápicos no Brasil. Até agora não obtive os dados”, lamenta Magrid Teske, presidente da Associação Brasileira da Indústria Fitoterápica.
Enquanto isso, investidores estrangeiros fazem cerco à flora brasileira. Por essa razão, o governo planeja construir uma empresa de biotecnologia na Amazônia e assim controlar a exploração da floresta. “Nós perdemos o bonde da ciência e da química, mas não podemos perder o da fitoterapia”, afirma José Bandeira Mello, do Laboratório Aché. “Falta uma política nacional, envolvendo governo, universidade e indústria farmacêutica”, conclui João Calixto, da Universidade Federal de Santa Catarina.
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