
O tratamento à base de plantas medicinais, ou fitoterapia, está ganhando força inédita no Brasil. Cerca de 2 mil produtos aguardam registro no Ministério da Saúde, número quase 10 vezes maior do que está disponível no mercado hoje. Além disso, muitas pessoas procuram chás e compostos naturais para tratar os mais diferentes males. Mas os especialistas alertam que o uso inadequado das plantas pode acarretar danos à saúde.
Em fevereiro, o governo federal criou uma norma para facilitar a regulamentação dos medicamentos fitoterápicos. Produtos feitos a partir de 13 vegetais (alcachofra, alho, babosa, boldo, calêndula, camomila, confrei, erva doce, gengibre, hortelã, melissa, maracujá e sene) não necessitam mais realizar estudos farmacológicos e toxicológicos para obter registro legal. Classificados como tradicionais, podem ser respaldados por estudos previamente realizados e pela literatura técnica.
– Faltava o Brasil se adequar a essa tendência mundial – afirma o assessor da gerência geral de medicamentos da Secretaria Nacional da Vigilância Sanitária, Edmundo Machado Netto.
Entre os males que podem ser combatidos com a ajuda da natureza estão a pressão alta, queimaduras, cortes na pele, gripe, tosse e prisão de ventre. Muitos defensores das plantas medicinais também pregam seu uso para tratar doenças como câncer e diabetes, mas até agora não existe comprovação científica dos resultados.
– O ideal é sempre manter acompanhamento médico e evitar a automedicação – afirma o professor de Botânica e Ecologia da Universidade Federal do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Clemente Steffen.
Steffen argumenta que o capim-cidró, por exemplo, é um bom tranqüilizante, mas pode fazer mal para quem sofre de pressão baixa. O uso de plantas mais cáusticas como aveloz e losna deve ser bem-orientado para evitar irritação de olhos e mucosas, por exemplo. O biólogo Rodrigo Magalhães lembra que até há algum tempo era comum o consumo do confrei. Hoje sabe-se que seu uso interno provoca danos ao fígado.
– A velha máxima das plantas medicinais de que se não cura, mal não faz, é um mito – adverte Steffen.
O professor do curso de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Eloir Schenkel coleciona em uma pasta as aberrações que ele coletou no mercado formal e informal de ervas. O “monstruário”, como ele chama, conta com uma embalagem em que a fórmula do medicamento aparece de duas maneiras diferentes e recortes de jornal sobre mortes provocadas por plantas tóxicas, por exemplo.
Um dos itens mais interessantes da coleção é uma bula que promete acabar com as seguintes doenças: tumores cancerígenos diversos, leucemia, diabetes, bronquite, reumatismo, Mal de Chagas, picadas de cobras e insetos, verrugas, insônia e até “embriaguez ocasional”.
– É uma fraude. O consumidor tem de desconfiar de produtos que prometem demais. Isso não existe – garante.
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